Este é um blog sobre cosmética mas nesta altura não posso ignorar este protesto que irá acontecer em Lisboa e no Porto no próximo dia 12 de Março. Espero que me compreendam e que leiam este post até ao fim.
Nasci numa família pobre. Sou a terceira pessoa da minha enorme família (materna e paterna) a frequentar o ensino superior e serei a segunda a licenciar-me. Os meus pais têm ambos a quarta classe e, apesar de nunca me pressionarem a continuar a estudar, sempre me apoiaram no meu interesse em ter uma formação superior. Eles pagam-me as propinas, aqueles mil euros anuais que tenho de pagar por frequentar um ensino superior público e cujo dinheiro não é usado para melhorar a qualidade de ensino que a minha faculdade me fornece. Apesar de ter uma formação académica em muito superior à dos meus pais não tenho qualquer esperança em vir a ter um estilo de vida muito melhor. Tenho boas notas e ainda assim sei que dificilmente trabalharei na minha área. Simplesmente porque não há emprego. Estudo porque gosto, porque acho que a formação académica não será nunca uma coisa negativa mas não estudo com esperança de vir a trabalhar na minha área. Chamem-me pessimista mas são muitas as pessoas que conheço que se licenciaram na minha área e trabalham há anos em call centers com contratos de seis meses e com salários que não lhes garantem uma vida confortável.
Dizem-nos que temos de ter filhos para renovar a geração, mas quem é que arrisca começar uma família se não sabe se vai ter emprego quando a criança nascer? Dizem-nos que temos de ser "empreendedores" mas quem é que pode começar um negócio sem dinheiro? E vamos ser todos patrões uns dos outros? Dizem-nos que temos de continuar no nosso país e ajudar a melhorá-lo mas é lá fora que temos ofertas de emprego. Dizem-nos que nos queixamos sem ter noção dos nossos privilégios mas somos a primeira geração que vai ter um nível de vida inferior ao nível de vida dos seus pais. Dizem que somos conformistas e têm razão.
Desde pequena que percebi que para mim não fazia sentido ficar em casa a queixar-me das injustiças do mundo, da política, dos políticos e do estado negativo das coisas "que não mudam nunca". Faço por me informar sobre todos os assuntos e acredito no activismo político. Luto e manifesto-me por causas que me dizem respeito mas também me manifesto por causas que não me afectam directamente. Estou, por exemplo, presente em todas as manifestações de imigrantes e contra o racismo porque sou contra as discriminações e aos meus olhos não faz sentido ficar em casa e não mostrar a minha solidariedade. Acho que os partidos que já estiveram no governo desde o 25 de Abril são essencialmente corruptos, mesmo que existam pessoas bem intencionadas entre os seus militantes. Mas não tenho um discurso anti partidos: acredito que existem políticos bem intencionados, sou militante de um partido político e sei que as pessoas que nele são activas acreditam realmente no que defendem. Mas não posso fechar os olhos e achar que os portugueses são como o meu grupo de amigos. Os portugueses acham que todos os políticos são iguais, mesmo aqueles que nunca estiveram no governo. Acham também que a situação "está muito má" mas nada fazem por se informar sobre questões que lhes afectam directamente e por lutar contra as políticas negativas que se vão aplicando.
Foi por isso com imensa alegria que comecei a ver o número de participantes no evento do facebook da manifestação da geração à rasca (espero que o link funcione, se não aqui fica o link para o site oficial) a aumentar de dia para dia. No momento em que escrevo este post são 43 008 os participantes, espero que sejam ainda mais no dia em que este post for publicado. Não acredito que vão estar 43 000 pessoas nas ruas neste dia mas é a primeira vez que vejo tanta gente mobilizada por uma causa que diz respeito a todos nós. É que a geração à rasca não é apenas a geração das pessoas da minha idade que não tem esperança de encontrar outro emprego que não seja precário. É também a geração das pessoas de 50 anos que se vêem sem emprego de um dia para o outro e são demasiado jovens para se reformarem e demasiado velhas para que alguém lhes dê emprego. Somos, infelizmente, a esmagadora maioria da população portuguesa.
A manifestação tem três reivindicações muito simples:
- Pelo direito ao emprego! Pelo direito à educação!
- Pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade!
- Pelo reconhecimento das qualificações, competência e experiência, espelhado em salários e contratos dignos!
- Pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade!
- Pelo reconhecimento das qualificações, competência e experiência, espelhado em salários e contratos dignos!
Portugal vai acordar na mesma situação no dia 13 de Março mas terá um ouvido um grande grande "Basta!" de milhares de pessoas que perceberam que as coisas não vão mudar nunca se ficarem em casa e a queixar-se da situação apenas com os seus amigos. Se forem para a rua mostrar o seu descontentamento os políticos irão finalmente perceber que têm de governar para o povo e não para as empresas e para os grandes grupos económicos (e para eles mesmos)! Acredito mesmo nisto que estou a escrever e por isso espero que se apercebam da importância desta manifestação. Este é um protesto apolítico e pacífico e por isso estarão lá pessoas de todas as ideologias políticas, não é "mais do mesmo" ou um protesto "de um partido com interesses por trás". São muitos os meus amigos e colegas que acham as manifestações coisas ridículas e sem grande importância, que nunca se manifestaram por nada, que me dizem que vão estar presentes nesta manifestação e que estão a divulgá-la por todos os seus conhecidos.
A manifestação é no dia 12 de Março às 15h. Em Lisboa vai começar na Avenida da Liberdade e no Porto na Praça da Batalha. Vem manifestar-te por melhores condições de vida e traz contigo familiares, amigos e colegas!
Sem tirar nem pôr uma palavra. Simples e directo.
ReplyDeleteApoio.
Como eu te compreendo, praticamente a minha situação foi como a tua, também sou proveniente de uma família humilde, que sempre trabalhou em fábricas, mas por muito esforço dos meus pais consegui licenciar-me... graças a Deus consegui um bom emprego, mas estou solidária com esta causa, pois muitos dos meus colegas que se formaram comigo não tiveram a mesma sorte, o problema é que nem em call-centers arranjam emprego, pois supostamente têm habilitações a mais... enfim... também não suporto que digam que os políticos são todos iguais pois não são! O mal do povo é que elege sempre os mesmos, não dão oportunidade aos outros partidos políticos de mostrarem o que podem fazer... sou comunista, com muito orgulho!
ReplyDeleteSe tiver folga, marcarei presença na Praça da Batalha.
Beijinhos.
Força...
ReplyDeleteA para aqueles que acham que a sua presença não vale a pena no meio de tanta gente: estão errados! Mau era se 40.000 pessoas pensassem assim! Eu irei e a minha querida irmã a terminar a sua licenciatura.
ReplyDeleteNão é só pagar as dívidas que os governos fazem/deixam...
ReplyDeleteA «democracia directa» não é solução... mas votar não é passar um 'cheque em branco'!!!!!!
Quem paga - vulgo CONTRIBUINTE - deve possuir o Direito à Transparência e o Direito ao Veto das despesas não consideradas prioritárias...
PELO DIREITO AO VETO DE QUEM PAGA (vulgo contribuinte) blog: Fim da Cidadania Infantil.