Como fui educada numa religião que não celebra o Natal, e como agora sou ateia hardcore, não celebro e nunca celebrei esta época. Nunca tive árvore, nunca tive prendas e nunca morri por isso. É certo que quando era criança tinha vergonha de explicar isto aos meus amigos que me vinham falar sobre a árvore ou sobre as prendas que tinham recebido e acabava por inventar a minha noite de Natal, mas nunca foi algo que me deixasse traumatizada. Tinha noção de que isso podia ser uma entre mil coisas que os meus colegas iam aproveitar para gozar mas nunca senti que existisse algo de errado com o facto de ter pais com uma religião diferente. Hoje não o celebro porque por mais que me digam que é algo mais cultural que religioso, aos meus olhos não faz sentido celebrar qualquer feriado do tipo. Basear-me em algo em que não acredito para ter uma festa, por mais divertida que ela seja, para mim é totalmente absurdo. Embora perceba os meus vizinhos hindus que se esmeram mais que qualquer outra pessoa nas decorações de Natal, para mim é simplesmente estranho. Acabo por passar a noite com alguns amigos ateus ou que estão longe de casa e são sempre noites divertidas e pouco católicas. É certo que gosto de receber presentes e não me importava nada de ter uma noite cheia de doces e comida (notaram a ordem de preferência?) na mesa, mas posso fazer isso ao longo do ano sem ter de ir contra os meus valores.
Dito isto, a minha única tradição que havia em minha casa eram as filhoses (deixo link para a imagem porque troco todos os nomes dos bolos desta época e a diferença de terminologia nos vários cantos do país não ajuda). Éramos apenas cinco lá em casa numa noite igual a todas as outras mas a minha avó fazia questão de cozinhar estes bolinhos para vinte. Ela juntava os ingredientes, eu batia a massa num alguidar maior que eu, e aproveitava para prová-la a cada passo, sendo que gostava ainda mais quando ela lhe juntava uma bebida alcoólica qualquer (seria vinho do porto?), hehe. Esta tradição terminou há cinco anos e, como devem calcular, não é das filhoses que tenho saudades. A minha avó morreu no final de Novembro e embora me lembre mais dela durante os meses frios, sinto saudades ao longo do ano. Era realmente a mulher da minha vida e na imaturidade dos dezoito anos só percebi o quanto a amava quando a vi a perder capacidades a uma velocidade estonteante. A partir daí nunca mais a larguei. Parei a minha vida por completo para estar com ela e não me arrependo. Morreu a dar-me a mão.
Mas não é para falar de momentos tristes que estou a escrever este post. Nunca andei às compras com uma lista de pessoas a quem dar prendas e só posso agradecer por isso. Não só porque me sobra muito mais dinheiro na carteira mas também porque deve dar uma trabalheira e eu sou péssima com prendas. Actualmente, compro apenas um presente para o meu companheiro (e ainda não o fiz). Apesar disso, costumo sempre receber alguma coisa das sogras. Essas sim, celebram o Natal e, apesar de não saberem quase nada sobre os meus gostos, acabam sempre por me comprar alguma coisa. Menos mal quando me oferecem cremes ou produtos de beleza, péssimo quando me dão roupa ou livros. Isto tudo para dizer a minha sogrinha esteve recentemente no Brasil e me trouxe de lá algumas coisas. Vários pares de chinelos (Havainas e marcas semelhantes mas mais baratas), uma pulseirinha, um creme para as mãos, alguns doces (tenho para mim que os brasileiros se inspiraram nos deliciosos doces portugueses, pegaram em mais alguns de outros países e lhes despejaram doses absurdas de açúcar por cima - ou seja, uma delícia) e vários vernizes. Tudo de cores sóbrias mas muito giro para quem sempre quis experimentar marcas brasileiras como a Colorama ou a Impala. Quando lhe disse que tinha sido dos últimos que eu mais tinha gostado, sobretudo por ter sido uma surpresa, foi à casa de banho e deu-me mais alguns que ela tinha usado uma única vez e posto de lado. Tudo fantástico, até que cheguei a casa e fui experimentar um. Peguei num da Colorama, passei-o, esperei que secasse e fui lavar a loiça. Quando olho para as unhas vejo o verniz a descolar. Não era a lascar, era mesmo a descolar da unha sem se partir. Péssima primeira experiência com a marca, pensei. Até que fui guardar todos os vernizes na minha caixinha e reparei que estão todos fora de prazo. Todos. Será que foi a sogrinha que foi enganada ou foi ela que me tentou enganar?
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